segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Vivaldi e o Hino da República de Veneza

Corfu, ou Córcira (Κέρκυρα em grego) é uma ilha grega no mar Iônio; a segunda maior das ilhas iônias. Para quem vem da Península Balcânica, fica na entrada do mar rumo à Itália.
Em 1386 a ilha passou a estar sob controle veneziano; quem a partir de 1401 também assumiu a soberania formal da ilha. Foi, por isto, considerada a "Porta de Veneza" durante os séculos, entre
1401 e 1797, quando o Mar Adriático era conhecido como "Golfo de Veneza".

Durante esse tempo a ilha foi sitiada pelos turcos diversas vezes, sendo mais notáveis os assédios de 1537, 1571, 1573 e o de 1716.


O assédio de 1716 aconteceu durante a Guerra Turco-Veneziana. Após conquistarem todo o Peloponeso em 1715, os turcos capturaram Butrinto, que fica de frente para Corfu; em 8 de Julho de 1716 os turcos se deslocaram de Butrinto para uma praia em Ipsos, na Ilha de Corfu; no mesmo dia a frota de Veneza encontrou a frota turca e perdeu a batalha naval que se seguiu e abriu caminho para que em 19 de Julho a armada turca cercasse a cidade e a assediasse por 22 dias, quando 5 mil venezianos, 3 mil corfiotas, junto de mercenários, sob a liderança do Conde von der Schulenburg, enviado pelo Sacro Imperador, venceram as tropas turcas.

A expulsão dos turcos de Corfu foi extensivamente comemorada na Europa, onde a Ilha foi tida como bastião da Civilização Ocidental contra a barbárie Otomana. Para celebrar a vitória o Senado Veneziano comissionou a composição de um Oratório ao compositor Antonio Vivaldi.

Vivaldi apresentou Juditha Triunphans devicta Holofernis barbarie em Novembro de 1716 no Ospedale della Pietà, que foi de imediato um grande sucesso. O enredo é baseado no livro bíblico de Judite e conta uma história que serve de alegoria para a vitória veneziana contra os turcos. A pequena Judite (ou a pequena Veneza) contra os grandes bárbaros Holofernos (ou o grande Império Otomano).



O historiador Will Durant, quem concebe a história de um ponto de vista filosófico, defende que Corfu deve à Veneza o fato de ser a única parte da Grécia que nunca esteve sob o domínio turco muçulmano. E de fato, os venezianos pareciam se orgulhar por defender "a civilização da barbárie", ou, "Judite contra os bárbaros de Holofenos", como alcunhou Vivaldi.



O Coro Final do Oratório, por exaltar a qualidade de Veneza como defensora do Ocidente, passou a ser utilizado como Hino da República de Veneza. A letra canta:

Salve invicta Juditha formosa
Patriae splendor spes nostrae salutis.
Summae norma tu vere virtutis
Eris semper in mundo gloriosa.

Debellato sic barbaro Trace
Triumphatrix sit Maris Regina.
Et placata sic ira divina
Adria vivat, et regnet in pace.



Que em português fica:

Salve Judite formosa e invencível;
Esplendor da pátria e salvação da nação;
Modelo de suma virtude;
Sempre serás no mundo, gloriosa;

Derrotou o rastro do bárbaro;
O triunfo da Rainha do Mar;
E aplacou a ira divina;
Viva Adria(1) e reine em paz


(1) Adria é Veneza, a cidade adriática por excelência.

sábado, 25 de setembro de 2010

Dica: Persée

Em seguindo a linha de sugestões de sítios que disponibilizam material de pesquisa, vai mais um banco de artigos, o Persée.
O Persée é um programa nacional do governo francês de biblioteca científica; elaborado pela Université Lyon 2, em colaboração com o MOM, a Université de Paris-Descartes e o CINES.
Disponibiliza edições - muitas completas - de revistas científicas francesas em várias áreas: História, Arqueologia, Lingüística, Antropologia, Psicologia, Sociologia, etc...

Visite: www.persee.fr

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dica: Letras USP Download

Para quem gosta/precisa ler algumas obras e não tem recursos para comprar os livros. Aì vai uma boa: a Letras da USP possui um blog onde disponibiliza a versão digitalizada de vários livros interessantes.
O endereço é: http://letrasuspdownload.wordpress.com/

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Como os chimpanzés percebem a morte.

Este texto é uma tradução livre do francês de um artigo do Le Monde (27/04/2010).

Os chimpanzés são capazes de pensar no fututo. Isto foi estabelecido por uma equipe sueca ano passado. Por vezes o futuro é previsto para um próximo. Dois artigos publicados segunda-feira, dia 26 de Abril, fazem a mesma observação: esses primatas adotam uma atitude particular quando a morte ocorre. E certos têm um comportamento comparável àquele dos humanos em contato com um morimbundo.

Pansy era uma velha chimpanzé fêmea escocesa, decana do Reino-Unido - onde vivia em cativeiro. Aos cinquenta e poucos anos ela começou a enfraquecer e a não mais se levantar. Os três congêneres com os quais ela vivia cuidaram dela nos últimos dias. Mais calmos e menos barulhentos, eles ficavam próximos, a acariaciavam e a lavavam.



Isto não é tão fácil de se perceber neste vídeo, mas os primatas agitam docemente a velha fêmea. Interrogado pelo Guardian, Jim Anderson, principal autor do estudo publicado no Current Biology julga "difícil de não se pensar que eles buscam [ao balançá-la] por sinais de vida". E segue:

"No início os chimpanzés parecem ter concluído que ela se foi. Dois partem, mas uma fêmea fica perto dela lhe segurando a mão. Na mesma noite, sua filha voltou e permaneceu perto dela a noite toda. Ela ensaia dormir, mas é evidente que ela está perturbada, assim como os outros chimpanzés".


Dora Biro, pesquisadora em Oxford, filmou as mães dos chimpanzés em seu meio natural, as florestas da Guiné. As conclusões de suas pesquisas foram igualmente publicadas no Current Biology.
Onde este filme foi rodado, cinco chimpanzés da comunidade, dos quais duas crianças, pereceram de doenças respiratórias. As mães dos pequenos chimpanzés guardaram os corpos de seus filhos perto de si. Durante dias e dias eles transportavam os despojos que terminaram por se mumificar. Com o passar do tempo elas foram permitindo que outros membros da comunidade carregassem os corpos, se eclipsando por longos períodos de seus pequenos, até que, por enfim, os abandonavam.

As imagens são perturbadoras:


Elizabeth Lonsdorf do zoo de Chicago precisa, no sítio Science News, que na natureza, os chimpanzés reagem de modos muitos variados face à morte de um próximo. "Os chimpanzés velhos e doentes geralmente encontram um canto para se abrigarem e morrerem sozinhos", explica. Para Jim Anderson, interrogado pela Agence France Presse; a experiência prova que os chimpanzés "são bem consciêntes da morte e provavelmente de maneira mais desenvolvida do que supunhámos".

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Comentários sobre “A superação do senso comum”.

Foi publicado, no dia 08 de Abril deste ano (2010), um pequeno artigo no blog “Tinha em mente” que trata sobre o senso comum no contexto da modernidade, intitulado "A superação do senso comum". Este texto pretende tecer alguns comentários ao que foi tratado naquele texto. Em um primeiro momento convém definir o que entendo por “senso comum”, depois, relacionar este conceito com o contexto do mundo contemporâneo (é, na realidade, uma singela tentativa disso).
Entendo por “senso comum” o que a antropologia evolucionista definiu por “cultura”. O americano Edward Tylor, em 1871, precisava que “cultura, ou civilização... é este complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, leis, moral, costumes e algumas outras capacidades e habilidades adquiridas pelo homem como membro de uma sociedade” (Tylor 1871: 1). Assim, com Max Weber podemos definir “senso comum” como o conjunto de práticas, conhecimentos, idéias, etc., que são herdados pelo indivíduo, do grupo social em que vive. É o resultado das experiências anteriores, como no caso de sabermos, mesmo sem conhecer o princípio bio-químico, que não podemos consumir determinado alimento; ou que determinado chá é eficiente na cura ou no alívio de algum mal-estar (como ao beber chá de boldo quando se está mal do estômago).
Enquanto conceito filosófico o senso comum surgiu no século XVIII, representando o combate ideológico da burguesia emergente contra o irracionalismo do Ancien Régime, sendo, pois, de um senso que se pretende razoável, prudente, “um senso que é burguês e que, por uma dupla implicação, se converte em senso médio e em senso universal. A valorização filosófica do senso comum esteve, pois, ligado ao projeto político de ascensão da burguesia, pelo que não surpreende que, uma vez ganho o poder, o conceito filosófico de senso comum tenha sido correspondentemente desvalorizado como significando um conhecimento superficial e ilusório. É contra ele que as ciências sociais nascem no século XIX” (Boaventura 1989: 36). Como reação de uma classe estabelecida no poder que procura justificar a sua superioridade não mais pelo nascimento, como fizera a nobreza do Ancien Régime, mas pelo conhecimento. É nítido como a partir de meados do século XIX o ambiente intelectual foi cada vez mais dominado pelas classes médias-altas e que foram estes grupos que elaboraram, por exemplo, teorias democráticas restritivas, como a democracia representativa (Finley).
Em “Ciência como Vocação” Max Weber afirma: “Significará que nós, hoje, por exemplo, sentados neste auditório, temos maior conhecimento das condições de vida em que existimos do que um índio americano ou um hotentote? Dificilmente. A menos que seja um físico, quem anda num bonde não tem idéia de como o carro se movimenta. E não precisa saber. Basta-lhe poder ‘contar’ com o comportamento do bonde e orientar a sua conduta de acordo com essa expectativa [...] A crescente intelectualização e racionalização não indicam, portanto, um conhecimento maior e geral das condições sob as quais vivemos” (Weber 1982: 195). Até este ponto eu e o autor do texto a que comento estamos em acordo.
No entanto, o autor de “A superação do senso comum” afirma que “Na modernidade cada um que deseja ser um sujeito singular, necessita expressar opinião e comportamento que sejam críticos em relação ao senso comum. Ser só mais um na multidão lhe tira sua subjetividade”. Não penso que a questão seja assim tão simples. É fato que há um discurso que exalta a individualidade e que, como discurso, se reflete em roupas, acessórios, gostos musicais e culinários, entre outras coisas. Mas não podemos nos esquecer do contexto sócio-econômico em que vivemos: o mundo capitalista. Dentre as diversas instituições que formam o nosso sistema social a economia tem relevo nas preocupações cotidianas. Decisões políticas, casos judiciários, até mesmo as religiões são guiadas, na contemporaneidade, pelas preocupações econômicas. Mais uma vez lembrando Weber, a situação de classe é uma situação no mercado: qual a sua posição com relação a ele (Weber 1994). Para o sistema capitalista o interessante é englobar o maior número possível de grupos, mesmo que culturalmente distintos: ele é maleável, “líquido”, e se infiltra em qualquer sistema sócio-cultural. E um dos mecanismos dessa infiltração é a massificação de elementos desse novo grupo dentro de grupos já inseridos no sistema capitalista – ele passa a fornecer elementos comercializáveis ao mesmo tempo em que também recebe. Deste modo, quando uma mulher brasileira utiliza uma “saia indiana”, acreditando discursar uma individualidade, ela na verdade só está participando no processo de massificação da cultura (já que ela usa esta saia do mesmo modo que centenas de outras brasileiras; pode encontrá-las facilmente em lojas no Brasil; e muito menos precisou se preocupar em conhecer o mundo indiano para optar usar uma saia indiana). O exemplo contrário pode ser visto com a influência cada vez mais forte do pop norte-americano na música libanesa. E no caso de uma massificação interna temos o estilo musical “Rock”, que nasceu como uma forma de protesto e acabou, pelos mecanismos midiáticos, tornando-se uma das maiores fontes de lucro para a indústria fonográfica e símbolo da cultura nacional norte-americana. A massificação pode não atingir a todos os setores da sociedade fazendo com que elementos sirvam de marcas de distinção de grupos sociais, como é o caso das “tribos” com símbolos próprios, mas cujos elementos também foram massificados e por chegam facilmente aos jovens.
Assim, creio que quando alguém faz um discurso de “individualidade”, na verdade, ela inocentemente apenas só faz parte do sistema, assim como o resto de nós.

Por fim, a relação entre o “senso comum” e o “conhecimento científico”. Concordo com o autor de “A superação do senso comum” no sentido de que 1) muito do conhecimento científico surge do senso comum, de questões feitas à este senso comum, e 2) que é absurdo se pretender que a escola deva passar o conhecimento científico como algo incontestável e o senso comum como algo criticável. Para mim o que desperta o senso crítico, no entanto, é o método científico e não o produto da pesquisa científica em si. É o questionamento sistemático e a preocupação em deixar claros os procedimentos tomados no tratamento de uma questão. Acredito, assim, que mais do que passar “a verdade”, que pode estar no conhecimento científico ou no senso comum, a educação deve fornecer os métodos para que o indivíduo aprenda a observar uma situação ou uma visão de mundo sua e consiga buscar a origem daquele comportamento ou daquela idéia (seja de senso comum ou de conhecimento científico).

Referências.
BOAVENTURA de Souza Santos. Introdução a uma ciência pós-moderna, 1989.
FINLEY, Moses. Democracia antiga e moderna.
TYLOR, Edward B. Primitive Culture, 1871.
WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. V.1. Brasília-DF: Ed. Unb, 1994.
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1982.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Apelo de Urbano II em Clermont

Eu estava ouvindo um dos CDs do eruditíssimo Jordi Saval, Jerusalen: la cité deux paix (dos organizados por ele, um dos meus preferidos). E achei interessante uma das faixas onde é recitada uma passagem do Primeiro Apelo do Papa Urbano II em Clermont (e que levou à primeira Cruzada, organizada pelos franceses em 1095). Resolvi procurar o texto completo e, felizmente, o encontrei. Reproduzo-o, em francês, a quem interessar.

Appel aux religieux* lancé par le pape Urbain II* à Clermont*,
par FOUCHER DE CHARTRES*, Historia Hierosolymitana, 1100-1127.


"Ô fils de Dieu ! Après avoir promis à Dieu de maintenir la paix dans votre pays et d'aider fidèlement l'Église à conserver ses droits, et en tenant cette promesse plus vigoureusement que d'ordinaire, vous qui venez de profiter de la correction que Dieu vous envoie, vous allez pouvoir recevoir votre récompense en appliquant votre vaillance à une autre tâche. C'est une affaire qui concerne Dieu et qui vous regarde vous-mêmes, et qui s'est révélée tout récemment (1). Il importe que, sans tarder, vous vous portiez au secours de vos frères qui habitent les pays d'Orient et qui déjà bien souvent ont réclamé votre aide.

En effet, comme la plupart d'entre vous le savent déjà, un peuple venu de Perse, les Turcs, a envahi leur pays. Ils se sont avancés jusqu'à la mer Méditerranée et plus précisément jusqu'à ce qu'on appelle le Bras Saint-Georges (2). Dans le pays de Romanie (3), ils s'étendent continuellement au détriment des terres des chrétiens, après avoir vaincu ceux-ci à sept reprises en leur faisant la guerre. Beaucoup sont tombés sous leurs coups ; beaucoup ont été réduits en esclavage. Ces Turcs détruisent les églises ; ils saccagent le royaume de Dieu.
Si vous demeuriez encore quelque temps sans rien faire, les fidèles de Dieu seraient encore plus largement victimes de cette invasion. Aussi je vous exhorte et je vous supplie – et ce n'est pas moi qui vous y exhorte, c'est le Seigneur lui-même – vous, les hérauts du Christ (4), à persuader à tous, à quelque classe de la société qu'ils appartiennent, chevaliers ou piétons, riches ou pauvres, par vos fréquentes prédications, de se rendre à temps au secours des chrétiens et de repousser ce peuple néfaste loin de nos territoires. Je le dis à ceux qui sont ici, je le mande à ceux qui sont absents : le Christ l'ordonne.

À tous ceux qui y partiront et qui mourront en route, que ce soit sur terre ou sur mer, ou qui perdront la vie en combattant les païens, la rémission de leurs péchés sera accordée. Et je l'accorde à ceux qui participeront à ce voyage, en vertu de l'autorité que je tiens de Dieu.
Quelle honte, si un peuple aussi méprisé, aussi dégradé, esclave des démons, l'emportait sur la nation qui s'adonne au culte de Dieu et qui s'honore du nom de chrétienne ! Quels reproches le Seigneur Lui-même vous adresserait si vous ne trouviez pas d'hommes qui soient dignes, comme vous, du nom de chrétiens !

Qu'ils aillent donc au combat contre les Infidèles – un combat qui vaut d'être engagé et qui mérite de s'achever en victoire –, ceux-là qui jusqu'ici s'adonnaient à des guerres privées et abusives, au grand dam des fidèles ! Qu'ils soient désormais des chevaliers du Christ, ceux-là qui n'étaient que des brigands ! Qu'ils luttent maintenant, à bon droit, contre les barbares, ceux-là qui se battaient contre leurs frères et leurs parents ! Ce sont les récompenses éternelles qu'ils vont gagner, ceux qui se faisaient mercenaires pour quelques misérables sous. Ils travailleront pour un double honneur, ceux-là qui se fatiguaient au détriment de leur corps et de leur âme. Ils étaient ici tristes et pauvres ; ils seront là-bas joyeux et riches. Ici, ils étaient les ennemis du Seigneur ; là-bas, ils seront ses amis ! "


Précisions utiles :
1. Possible allusion à la venue d’une ambassade byzantine au concile de Plaisance (mars 1095) ;
2. Le Bosphore ;
3. Empire byzantin, héritier de l’Empire romain ;
4. Urbain II s’adresse à des évêques et abbés.


Notice pour aider à la compréhension du document : le 27 novembre 1095, à l'issue du concile de *Clermont (France), le pape *Urbain II s'adresse à 310 évêques et abbés afin que ceux-ci incitent les chrétiens d’Occident à se porter au secours des chrétiens orientaux. Cet appel a été retranscrit, plusieurs années après, par *Foucher (ou Foulcher) de Chartres, sans doute témoin du sermon. Celui-ci prétend donc que ce sont les paroles prononcées par le pape Urbain II (pape de 1088 à 1099) à Clermont. Ayant vécu d’environ 1058 à probablement 1127, Foucher de Chartres était un religieux intelligent et observateur, chapelain de Baudouin de Boulogne (futur roi de Jérusalem à partir de 1100). Il participa à la première Croisade (il est du moins présent en Terre sainte en 1096) sans prendre part à la prise de Jérusalem en 1099. Il rejoint Jérusalem en 1100, quelques mois après la prise de la ville par les croisés. De cette date à 1127 (date probable de sa mort), il rédige une chronique de la première Croisade (*Historia Hierosolymitana) pour inciter les chevaliers occidentaux à s’engager. La croisade est conçue comme un pèlerinage pénitentiel pour racheter les chrétiens désunis, mais aussi comme un moyen de détourner la violence des chevaliers vers une lutte utile contre les « païens ». Sous la pression du succès et à la demande de ses proches, la chronique est rédigée en trois périodes séparées de plusieurs années.
Texte originel en latin médiéval (dont il existe d’ailleurs plusieurs versions).